
A terceira temporada de Alice in Borderland, série japonesa da Netflix baseada no mangá de Haro Aso, chega como um clímax explosivo e emocionalmente devastador. Após duas temporadas de tensão crescente, a nova leva de episódios não apenas expande o universo distópico ela o desconstrói. E o que sobra é uma reflexão brutal sobre identidade, livre-arbítrio e o que significa sobreviver.
Enredo: Além do Tabuleiro
Se nas temporadas anteriores os jogos eram metáforas para instintos de sobrevivência, agora eles se tornam espelhos da psique humana. Arisu, Usagi e os demais sobreviventes enfrentam desafios que não testam apenas força ou lógica ,testam memória, afeto, culpa e desejo.
A introdução de novos “mestres de cartas” ,com destaque para os reis e rainhas ,eleva o nível de complexidade narrativa. Cada jogo é uma alegoria: o Rei de Espadas representa o confronto físico extremo; a Rainha de Copas, a manipulação emocional. O roteiro se afasta da ação pura e mergulha em dilemas existenciais.
Personagens: Fragmentos de Si
- Arisu continua sendo o fio condutor, mas agora mais introspectivo. Sua obsessão por entender o sistema dá lugar à busca por sentido.
- Usagi ganha mais profundidade, com flashbacks que revelam traumas e motivações.
- Chishiya, sempre enigmático, se torna o símbolo da ambiguidade moral , um jogador que entende o jogo melhor do que ninguém, mas que começa a questionar se vale a pena vencê-lo.
A temporada também resgata personagens esquecidos e dá a eles arcos de redenção ou ruína. Ninguém está seguro, e isso torna cada episódio imprevisível.
Direção e Estética
A direção de Shinsuke Sato mantém o ritmo frenético, mas agora com mais pausas para contemplação. A fotografia alterna entre o caos urbano e cenários quase oníricos, como florestas artificiais e arenas surreais. A trilha sonora, mais melancólica, reforça o tom de despedida.
O uso de efeitos práticos e CGI está mais refinado. Os jogos são visualmente impactantes, mas nunca gratuitos ,cada elemento tem função narrativa.
Referências e Influências
A temporada flerta com obras como Matrix, Battle Royale e até Black Mirror, mas mantém sua identidade. A crítica à sociedade meritocrática, à alienação digital e à banalização da violência está mais explícita. Há também ecos filosóficos: o dilema do prisioneiro, o paradoxo de Teseu, e até referências ao budismo e ao existencialismo ocidental.
Impacto Cultural
Alice in Borderland não é apenas entretenimento é um fenômeno. A série consolidou o Japão como potência narrativa no streaming global, ao lado de Squid Game e Kingdom. A terceira temporada, em especial, dialoga com uma geração marcada por crises: pandemia, colapso ambiental, hiperconectividade e solidão.
O público brasileiro, que já abraçou a série nas temporadas anteriores, deve se identificar ainda mais com os temas de desigualdade, resistência e reconstrução.
Final: Respostas ou Labirintos?
Sem spoilers, o desfecho da temporada é ambíguo como deve ser. Ele oferece pistas, mas não certezas. E isso é coerente com a proposta da série: em Alice in Borderland, o jogo nunca termina. Ele apenas muda de forma. Alice in Borderland temporada 3 é uma obra madura, provocadora e necessária. Ela transcende o gênero e se firma como uma das narrativas mais relevantes da ficção contemporânea. Um espelho distorcido do nosso mundo e, talvez, um convite para reinventá-lo.
No responses yet