Koe no Katachi: Uma Voz Além do Silêncio

Cena animada mostra dois adolescentes em uniforme escolar sobre uma ponte cercada por árvores de cerejeira em flor. A garota tem cabelo rosa e segura as mãos diante do peito; o garoto tem cabelo preto espetado. Abaixo, há um lago com peixes koi e pétalas espalhadas pelo chão e no ar, criando um ambiente calmo e contemplativo. Vista aérea destaca a beleza e a emoção do momento.

Em um mundo onde o som é rei, Koe no Katachi ousa escutar o silêncio. O filme japonês dirigido por Naoko Yamada, baseado no mangá de Yoshitoki Ōima, é mais do que uma obra de arte animada é um manifesto sensível sobre inclusão, arrependimento e reconexão. E neste 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, sua mensagem ressoa com ainda mais força.

Enredo e Temas Centrais

A história gira em torno de Shoya Ishida, um garoto que, na infância, praticou bullying contra Shoko Nishimiya, uma colega surda recém-transferida. Anos depois, atormentado pela culpa e isolado socialmente, Shoya busca redenção ao tentar se reconectar com Shoko. O filme não se limita a narrar uma jornada de perdão ele mergulha nas complexidades da comunicação, da empatia e da saúde mental.

Temas abordados:

  • Capacitismo e exclusão social
  • Bullying escolar e suas consequências
  • Depressão, suicídio e isolamento
  • Reconstrução de laços humanos
  • A linguagem como ponte — e barreira

Direção e Estilo Visual

Naoko Yamada, conhecida por sua sensibilidade em retratar emoções humanas, utiliza enquadramentos intimistas e uma paleta de cores suaves para criar uma atmosfera contemplativa. Os silêncios são tão eloquentes quanto os diálogos. A câmera frequentemente foca nos olhos, nas mãos, nos gestos, elementos cruciais para quem vive sem o som.

Um detalhe marcante é o uso de “X” sobre os rostos das pessoas, simbolizando o bloqueio emocional de Shoya. À medida que ele se reconecta com o mundo, os “X” desaparecem , uma metáfora visual poderosa sobre reconciliação.

A Linguagem de Sinais e a Comunicação

Koe no Katachi não romantiza a surdez. Ele a apresenta como parte da identidade de Shoko, com suas dificuldades e conquistas. A Língua de Sinais Japonesa (JSL) é retratada com respeito, embora não seja o foco técnico do filme. O mais importante é como o filme mostra que a comunicação vai além das palavras está nos gestos, nas intenções, no esforço de ouvir o outro mesmo quando não há som.

Essa abordagem dialoga diretamente com o Dia Nacional do Surdo, que celebra a luta por direitos, visibilidade e inclusão da comunidade surda. No Brasil, essa data marca a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857 ,um marco na história da educação bilíngue e da Libras.

Representação da Surdez: Acertos e Limites

O filme acerta ao humanizar Shoko, evitando estereótipos. Ela não é apenas “a menina surda” ,é uma adolescente com desejos, medos e força. No entanto, críticos apontam que a narrativa ainda gira em torno da perspectiva do ouvinte (Shoya), o que pode limitar a profundidade da vivência surda.

Ainda assim, Koe no Katachi abre espaço para o diálogo. Ele convida o público a refletir sobre como tratamos o “outro”, especialmente aquele que não se comunica como nós.

Personagens e Desenvolvimento

  • Shoya Ishida: Um protagonista complexo, cuja jornada de redenção é dolorosa e realista.
  • Shoko Nishimiya: Uma personagem delicada, resiliente, que representa a força silenciosa de quem vive à margem.
  • Yuzuru (irmã de Shoko): Uma figura protetora que desafia estereótipos de gênero e família.
  • Grupo de amigos: Cada um representa uma faceta da juventude :negação, conformismo, empatia tardia.

Conexão com o Dia Nacional do Surdo

Koe no Katachi é um lembrete de que a inclusão começa com a escuta ,não apenas auditiva, mas emocional. Neste Dia Nacional do Surdo, o filme nos convida a refletir:

  • Estamos realmente ouvindo as vozes que não usam palavras?
  • Como nossas escolas, mídias e espaços públicos acolhem a comunidade surda?
  • O que significa pedir perdão e ser perdoado e por não ter escutado antes?

Conclusão

Koe no Katachi não oferece respostas fáceis. Ele nos deixa com perguntas, incômodos e uma vontade de fazer melhor e vejo nele uma obra que transcende o entretenimento: é uma ferramenta de educação, empatia e transformação social. Neste 26 de setembro, que possamos não apenas celebrar a comunidade surda, mas também nos comprometer a construir um mundo onde todas as vozes inclusive as silenciosas sejam ouvidas.

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