Ashita no Joe: o anime esquecido dos anos 70: Um marco do drama esportivo e da construção de personagem no anime — e que merece ser redescoberto.

Ilustração em estilo anime mostra um boxeador jovem com expressão determinada, vestindo camiseta sem mangas e luvas vermelhas. O fundo tem tom sépia envelhecido, com o texto “Ashita no Joe – O anime esquecido dos anos 70”.

Em meio à febre dos animes modernos e às reinterpretações nostálgicas dos anos 90, uma obra dos anos 70 permanece à sombra — esquecida por muitos, mas reverenciada por quem conhece suas raízes. Ashita no Joe (Tomorrow’s Joe), lançado em 1970, é mais do que um anime de boxe: é um retrato cru da juventude marginalizada, da luta por identidade e da redenção através da dor.

Baseado no mangá de Ikki Kajiwara (roteiro) e Tetsuya Chiba (arte), publicado entre 1968 e 1973, Ashita no Joe acompanha Joe Yabuki, um jovem delinquente que vive nas ruas e acaba encontrando no boxe uma forma de canalizar sua raiva e buscar um propósito. A série foi adaptada para anime em 1970, com produção da Mushi Production, estúdio fundado por Osamu Tezuka.

Com traços simples e animação limitada, o anime compensava com roteiro intenso, diálogos afiados e uma trilha sonora melancólica que refletia o Japão pós-guerra — um país em reconstrução, onde jovens como Joe buscavam lugar em uma sociedade que os rejeitava.

Ashita no Joe foi um divisor de águas. Ele introduziu o conceito de anti-herói emocional no anime, com um protagonista que não era idealizado, mas profundamente humano. Joe não luta apenas contra adversários no ringue — ele luta contra si mesmo, contra o sistema, contra o destino.

A série abordava temas como:

  • Pobreza e exclusão social
  • Reabilitação e reinserção
  • Sacrifício físico e psicológico
  • A morte como redenção

O impacto foi tão profundo que, após a morte de um personagem importante (Rikiishi), fãs realizaram funerais simbólicos em todo o Japão — um fenômeno cultural raríssimo.

Estilo e legado

Visualmente, Ashita no Joe carrega o estilo cru e direto dos anos 70: poucos efeitos, mas muita expressividade. A paleta de cores é sóbria, e os enquadramentos são dramáticos, quase teatrais. A trilha sonora, composta por Takeo Watanabe, mistura jazz e baladas tristes, reforçando o tom melancólico.

Seu legado pode ser sentido em obras como:

  • Hajime no Ippo (boxe moderno com alma clássica)
  • Rainbow: Nisha Rokubou no Shichinin (drama carcerário com estética semelhante)
  • Megalo Box (releitura futurista de Ashita no Joe, lançada em 2018)

Uma obra que ainda pulsa


Assistir Ashita no Joe hoje é como abrir uma cápsula do tempo emocional. A narrativa é lenta, mas carregada de significado. Os episódios não se preocupam em agradar — eles provocam, incomodam, fazem pensar.

Joe não é um herói fácil de amar, mas é impossível ignorar sua jornada. Cada soco que ele recebe é um grito contra a indiferença. Cada vitória é uma pequena luz em um mundo cinzento.

Por que revisitá-lo agora?


Em tempos de narrativas aceleradas e personagens idealizados, Ashita no Joe oferece uma pausa reflexiva. É uma obra que fala sobre falhar, tentar de novo, e seguir em frente mesmo quando tudo parece perdido — algo que nunca sai de moda.

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Reviews

One response

  1. Ótimo análise. Parece uma ótima obra, que conseguiu mover o interesse das pessoas a ponto de fazer com que elas fizessem funerais simbólicos no Japão 😮 Muito interessante.

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